domingo, 14 de novembro de 2010

VENENO

Na sombra
seu perfil se delineia,
espalha o veneno
em minhas veias
e, lentamente,
inflo o coração.
Depois, placidamente,
morro de paixão.
                                                    

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Suavidade

Roça a minha face
a ponta molhada dos cabelos.
Resvala pelo ar o seu perfume
deixando o rastro do desejo
em meu caminho.
Parte para outras terras
rumo ao futuro
deixando em minha face o beijo
e na alma
aceso
o fogo do desejo.
Másculo caminha sem olhar para trás.
Uma vontade de chorar
se faz presente.
Aflora aos lábios
o amargor da despedida.
Fica a ilusão
de uma história de amor.
Calada no coração
há esperança.
Desfaz-se a resistência.
Desmancha-se a muralha.
Derruba em mim
a negação.
Doce homem
em vestes de frieza.
Suave paixão
às vésperas
da realização.

Sentidos.

Teus lábios fixaram morada
na retina de meus olhos.
Minha pupila dilatou-se
ao toque doce da tua mão.
Meu ar preencheu-se
de esperança e amor.
Meu ser ficou mais leve
e o amanhecer
teve gosto de saudade.

Janelas...

O pensamento
debaixo da coberta
voa pela janela.
Vai de encontro a você.
O corpo treme
a boca geme.
Seu nome é um eco
em meu viver.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

RESGATE

Resgate.

Tem coisas que o tempo não resgata.
Como as marcas que vejo no meu corpo,
como as nuvens que nublam meu olhar,
como o sorriso que emudeceu no rosto.         

PEDAÇOS

Os mil pedaços de mim
pairam
suspensos
no imaginário fio
da saudade de ti.

ORVALHO

Orvalho


Friburgo desperta.
A janela aberta.
O olhar por trás da cortina.
Menina,
Friburgo vive suas montanhas.
O vale acorda
nas entranhas do ser adormecido.
A serpente segue
sinuosa
a estrada  do amor.

MANTO

Manto.

As luzes
que brilham na baia iluminada,
são como olhos a espreitar
minha alma apaixonada.
A extensão
do mar na noite,
que cai rapidamente,
é como a escuridão
que sobre a minha vida
entrou tão de repente.
                                          

MAÇÃ DO AMOR

Maçã do amor

Teu dedo lúcido.
O corpo translúcido.
O pelo suado.
O lábio molhado.
Homem tentação.
Que vontade de te lamber
Como doce de criança!


                   

JUSTIFICATIVA

Justificativa


Há sempre o não explicado,
a meia palavra,
o gesto não dado,
o nó na garganta,
que espanta o desejo em mim.
Foi bom
voar nas asas do sonho.
Abraçar teu corpo,
perder a consciência de mim,
depois...
(há sempre um depois)
o cheiro do chão:
sementes do passado
retalhado por mim.
Teus olhos:
esquilo acorrentado.
Teus passos:
tropeços
violentando
os atalhos da vida.
Atrás dos muros
nos encontramos,
em meio à grama
nos amamos.
E, amantes enamorados,
endoidamos.
Invertemos o verbo,
suspiramos desejo.
Estaremos sempre assim:
entre
o medo de morrer de amor
e o medo de matar o amor.
Mas, acima de tudo,
de todos,
do lodo,
nos amando, clandestinamente,
nos túneis cavados
da nossa loucura,
silenciosamente,
sorrateiramente,
até onde
nossas vidas alcançarem.      

GRANDEZAS

Grandezas.

São tantas as vontades,
e tão grandes,
que já não cabem
no estreito porão
do pensamento.
São altos os anseios,
e tão extensos,
que perdem o sentido
quando, numa noite,
em ti não penso!                

GOTA

Gota

Mais uma gota
no incontido oceano de desejos
que habita em mim
a transbordar ,às margens do prazer,
a dúvida cruel da transgressão.
No fundo de mim há uma rocha;
garimpe com carinho mergulhador ousado,
encontrarás tesouros nunca antes revelados.
Dos mares de anseio atormentado,
das ondas da vontade acorrentada,
dos barcos naufragados do amor,
surgirão pérolas para enfeitar teu coração! 
                                                                     

FUGA

Fuga

Eu adorava.
Amava mesmo.
Depois...
colocava tudo no incinerador
e esquecia o amor.
Pra não sofrer
mais tarde,
do abandono
a dor.

FLECHA CERTEIRA

Flecha certeira


Queria traçar em teu peito
uma linha funda até o coração
penetrar feito chuva no chão
e dentro virar furacão
fazer farra
virar a mesa
tomar o vinho da orgia
seiva divina do teu amor.

 

FELINA

Felina

A noite envolve,
domina.
Abomina em mim
meu lado menina
deitada em leito de cruz.

A magia me fascina,
me tolhe a consciência,
me deixa fada,
bailarina
dançando aos sete véus
a mulher felina.


  

ESTRELINHA

Estrelinha


Aquela pequena estrela,
aquarela de meus sonhos,
pintados na tela menina
desce cadente,
incandescente,
no meu coração.
Inflama o ser,
transforma a indiferença,
cria o amor
e a consciência do viver.

                        

EGOÍSTICA

Egoística

Amo amar
coisas
pessoas
sentimentos.

Amo amar
momentos,
efêmeros pedaços
de meu ser.


Daniela Santi

DESEJO

Desejo

Desnudo minha alma
como,talvez, quisesse
desnudar o corpo.

Alma, porém
não tem temores
não tem vergonhas
não provoca dissabores.

O corpo sem cautela
revela seus receios:
possui pudores incrustados
pelo lento esculpir do tempo.

O vento, calmo e sereno
vem comigo conversar
e me sopra que temores se desfazem
como o perfume a evaporar no ar.

Limpa minh’alma entristecida
e, pouco a pouco, docemente
refaz, tranquila, a veste de minha mente.

E, lentamente dispo-me
aprontando-me para o amor,
deitando-me ao calor dos sonhos meus.

Vontades indizíveis
na madrugada insone
tornam-me Vênus
a dominar seu homem.

A inundar a noite dos anseios
vem o claror da aurora,
bate à janela e traz os medos.
É chegada a hora!

Refaço os pensamentos meus
e me comporto
a percorrer a velha e conhecida estrada
que só traz o desconforto.

E em frente ao espelho
na roupa quente e apertada do desejo,
busco saídas para, sutilmente, saborear o amor
e para, silenciosamente, superar a dor.
 
                                                        


CARÍCIAS

Carícias.

Acaricio o tempo que desfila suas vestes
na longa passarela da minha vida.
Quero outros voos;
planar suavemente sobre os desejos,
podendo escolher o pouso meu.
Deitar a carne fraca e ainda ardente,
e relaxar dos pesos a exausta mente.
Quero dormir o sono justo dos amantes.
Poder viver no mundo sem amarras
e ser a seguidora dos contentes
para aplacar o coração queimando em chamas.

                                                                     

CABARÉ DESEJO

Cabaré Desejo


Quando me abro assim
nos teus braços
espanto
o tempo do medo
desvendo teu segredo
acendo meu beijo
na mesa final
do “Cabaré Desejo”.

 

BELEZA

Beleza

Você é bonito
quando ri com sua gostosa boca molhada.
Parece pedaço de céu
que pulou para o chão.
Eu fico boba
e beijo sua boca sabor de conhaque.
Você é bonito assim, na cama.
Sem arma, sem máscara
e sem nada a dizer.

                                     

                                           

ANGUSTIA

Angustia.

Sossega nesta noite o coração,
pois já me abandona o pensamento,
de poder, um dia,
você ser meu, por um momento.
E lentamente esqueço o meu desejo.
Em nome da decência eu tenho medo,
e escondo o sentimento
no fundo da minh’alma.
Aspiro novos ares,
reponho os meus cantares
e sumo pelo mundo
em fragmentos.        

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CIRANDA

Ciranda



Éramos nós.
Éramos sóis
que brilhavam na imensidão.
Guerrilheiros, poetas, artistas.
Loucos amantes, alucinados na droga do amor.
Éramos sós contra o mundo.
De espada em punho e rosas nos dedos.
De raios azuis a saltarem dos olhos de prata.
Éramos crianças brincando, girando,
saltando as amarelinhas do asfalto de fogo.
Éramos Alice e o coelho.
O anão e a trapezista.
Quebramos o espelho.
Desequilibramos a vida.
Desfizemos o jogo do amor.
                                                     

BAILARINA

Bailarina


Quero penetrar nos seus sonhos.
Interferir no seu tempo, no seu espaço
e calar fundo, como flecha de cupido,
em seu coração.
Dançar uma rumba e depois jogar tudo pro alto
e, talvez, compassar o ritmo.
Espaçar os gestos.
Sentir o gosto do amor.
Depois, deixar perdido o olhar.
Entrelaçar as vidas.
Pensar no sonho impossível.
Dar um salto pras nuvens
e comer um pedaço de sol.
Dormir ao seu lado como deusa da Nova Era.
Esperar o  toque do dom.
O som sutil.
A nota exata.
Apanhar do desejo o fruto mais belo.
Pintar seu retrato nas paredes do quarto.
Relaxar o corpo após o momento exato.
E olhar seus olhos de gato brilharem na escuridão.
                                                                                    

TEMPO DO TALVEZ

Cansada do sofrer
recosto o meu viver
no tempo do talvez.
Eu que sempre me escondi
entre dúvidas e medos do não.
Eu, que caminhei agachada
sumindo nos subterrâneos do sim.
Alço voo no quase beijo.
Experimento do doce o gosto.
Eu, que nos dias ansiosos,
fiquei chorando e
amarguei a solidão
esperando o amor.
Eu que tive do abandono
o sinal não desejado.
Eu fico aqui pensando,
se agora chegou de verdade
essa sensação de felicidade.

                 

INFÂNCIA (conto)

Lembro-me de meus cinco anos. Da vontade incrível de querer estudar. Levantava antes das irmãs e, mesmo com o frio abaixo de zero, ficava escondida, em pé, atrás da porta da cozinha. A caldeira, com as brasas do carvão da noite, ainda crepitava. Eu , alí quietinha, ansiava por, talvez, pegar carona nos livros das duas outras meninas mais velhas. Quando era descoberta, pelo pai já em vestes de saída,era repreendida e mandada de volta à cama.A bronca parecia séria. Eu me amedrontava e obedecia, correndo, às ordens do genitor. Debaixo de seu semblante austero, porém, havia um leve sorriso de quem perdoava a travessura da infância sedenta de cultura. Lindas e longas noites, também dias, de expectativa pela chegada do meu "grande dia". Quando, finalmente, poderia me sentar nos bancos escolares e iniciar meu caminho do saber.
O dia chegou. Não foi maravilhoso como esperado.Na verdade, nem me lembro! Quando dei por mim, já estava aprendendo a história de Romulo e Remo e da boa lôba que os amamentou. As letras já não tinham para mim o ar de mistério a ser desvendado. Desde os cinco anos brincava de escolinha com as mais velhas.
A irmã do meio foi a dedicada professora, que me ensinou a conhecer outros mundos através das palavras.
A história dos gêmeos, que deram origem à capital da minha "Bella Itália", nunca me saiu da cabeça. O leite generoso da lôba, tampouco. Assim como a porta da grande e calorosa cozinha. Grande para meus olhos de menina desejosa de aventuras, fora dos confins de nosso lar.
Da escola, hoje só me lembro da colega de banco, Gabriella. Com ela  dividia não só a carteira e o tinteiro, para a caligrafia exemplar, mas também, os segredos, risos e lágrimas daquela longinqua infância. Das primeiras lições de vida. Lembro do branco avental, com laço azul na gola. A pasta, de couro e de alça, com dentro o material que cheirava a novo. Os lápis apontados. Os cadernos encapados. Os livros, lotados de lendas e histórias de outros povos. Outras crenças. Outras cores. Outras vidas.
Não lembro dos dissabores. Do sacrifício. Primeiro o do pai, a pedalar às cinco da matina. Depois das irmãs, a correr pela longa avenida que separava a casa da escola. Longa e ladeada por frondosas árvores.
Os pés correndo e pisando as folhas outonais caídas pelo chão da rua. Os suspiros das velhinhas que, ao ver aquela tampinha vermelha correndo desembestada, não supondo que ela já tivesse oito anos, morriam de pena. Crentes que a pequena não passava dos cinco anos, ficavam horrorizadas ao ver as irmãs a arrastá-la, pois estavam em atraso. O coro das boas velhinhas ecoa até hoje em meus ouvidos: "pobrezinha, tão pequenininha!Que judiação!" A fúria e a ira que esses comentários me provocavam, são indizíveis. Ficava vermelha nas faces, como era nos cabelos. Estes são os primeiros anos de escola. Essas são as primeiras lembranças. Dante Alighieri. Nome famoso da escola da minha infância. Prédio enorme. Escola pública. Não recordo que existissem particulares. Se existiam deviam ser para os ricos. Não eram para nós. Filhas honradas de operário de siderúrgica. Sinto também o gosto das castanhas torradas em minha boca. Vendidas em pequenas porções pelas carrocinhas das esquinas da escola.  Escorre pelo meu paladar o sabor do creme ,vermelho e amarelo, dos doces chamados "boca de leão". Nós os comíamos caminhando pelos pórticos, enquanto a irmã mais velha ia à frente com o namoradinho. Rumávamos em conjunto, para o "Luna Park". Esse era o parquinho de diversões próximo de casa. Adorava ir no carrossel. Amava aqueles finais de manhã, nos brinquedos a girar e a rir das molecagens da tenra idade. Iámos, depois, em trio, para casa.
Lá, nossa zeloza mãe nos esperava com pantufas de pano, onde pisávamos e deslizávamos pelos caminhos dos corredores de casa, sem arranhar o pavimento. Na cozinha, a fumegar nos esperava um quente prato de minestra, que alimentava não só o nosso corpo, mas que enchia de calor e amor nossos corações e almas.
Até hoje esse calor é o alimento e o combustível que me mantém viva e feliz.

UM DIA COMO OUTRO. (crônica)

Uma pequena confusão na esquina do cemitério. Carros se esbarram, insensíveis aos caixões que repousam os inertes corpos nas duas capelas do São Jõao Batista. Eu desço a ladeira pensativa. Preocupada com os deveres diários. A aglomeração de pessoas me chama mais a atenção que de costume. Passo quase sempre por este caminho, para alcançar a avenida mais rápidamente. Não são os amigos e familiares dos defuntos, que costumeiramente velam seus entes queridos e que, de vez em quando, vêm à porta abocanhar um pouco de ar sem o cheiro das velas derretidas, que lá dentro impregna os narizes chorosos. Não! São vozes agressivas que chamam a atenção porque querem ser as donas da verdade. Os senhores absolutos dos volantes. Os ases da direção ofensiva! Eu perpasso o caminho ausente ao vozerio de xingamentos. Aos oportunos conselhos sobre direção defensiva.Supero as portas das duas capelas. Uma no final da ladeira e  a outra ao lado da entrada principal do cemitério. Em uma delas já velei meu pai, na outra uma sogra depois mais uma sogra. E o mais doloroso: um ex marido. Ex., mas sempre e eternamente o pai de meu filho.
Aqui, hoje, eu supero essas barreiras. Aquelas lágrimas que lá rolam, não me pertencem. Os lamentos vêm de outras bocas. A perda mora em outros corações.Esses mortos não são "meus mortos". Mas, apesar disso uma sombra cai sobre mim. Um arrepio. Um aperto no peito. Tristes lembranças se fazem presentes. Um velório nunca é feliz.
Deveríamos fazer como em outras culturas, onde se comemora esse dia como nós comemoramos os aniversários ou as bodas. Poderiamos rir e cantar para as almas desencarnadas. Tomar café. Beber cerveja. Bater um bom papo e festejar, lembrando o quão boa ou necessária, nos foi aquela pessoa, que jaz imóvel em seu leito de madeira. Não fazemos isso e levamos, pelo resto de nossas vidas,a lembrança do corpo gélido e arroxeado, do ser que tanto amamos em vida. Não é justo. Não é decente.
É uma agressão às imagens felizes que, de repente, se tornam pano de fundo de um último e terrível retrato. O da morte.
Viro a outra esquina. Abandono os espectros no meu rastro. Deixo as dores para trás. Alcanço a avenida. Atravesso a rua movimentada da urbe. Entro no supermercado. Puxo a minha lista de alimentos para o mês.
Engato a marcha do carrinho, e parto para mais um dia de vida. Chata. Cansativa e repetitiva. Porém, prefiro-a a estar vinte passos atrás, deitada imóvel,deixando para outros o caminho que percorri nos últimos quinze minutos.

                      Daniela Santi

domingo, 10 de outubro de 2010

AMORES DE ONTEM

AMORES DE ONTEM

Os amores de ontem
já são brancos
como os fantasmas
da minha imaginação
de menina.
São sombras que refletem
os temores da juventude.
São espectros que povoam
os espelhos de meu coração,
onde refletem suas dores
as lágrimas escorridas.
Os amores de ontem
são lembranças
amareladas
como os retratos,
emoldurados,
da arte.
                               

VAGANTE


VAGANTE

Tornei-me
um vagante armário de lembranças
que nem eu mesma abro
para não sucumbir
à poeira do sofrimento
e deixar mofar
o resto dos sentimentos.

                                                          

PERSONAGEM

Personagem

Sou poeta
não poetisa
nas linhas do meu prazer.
Sou menina
nos afetos,
nos desenganos do amor.
Erro o jogo,
pulo o muro,
sofro perdas de cor.
Sou molambo,
solitária
entre os copos do bar.
Sou malandra,
bailarina,
dou piruetas no ar.
Corto o fio,
fantasio
e me  afasto do real.
Volto muda,
carrancuda.
Jogo I CHING
e rio alto.
Ponho o salto,
pinto o rosto,
varro o gosto do amargor.
Subo ao palco
e visto o meu Charlôt.
                                         

REVOLUÇÃO

Revolução

A tarde é quente e louca
e eu devaneio
sobre amor e sexo,
sobre revolução e poder.
Depois sento
à minha mesa de trabalho
e revoluciono o pensamento meu
exorcizando em mim
as palavras.

                        

SER


Ser

Foste em minha vida
a miragem desejada e
a ilusão perdida
no deserto das decepções.
Foste o brilho da estrela mais alta.
O calor do astro maior.
O buquê de flores mais belo
que alguém já ousou ofertar.
Foste o rápido espaço de tempo
que separa a felicidade da dor.
O pedaço de coração partido
que com o todo se reencontrou.
Foste a ida e a volta,
o início e a possibilidade,
o objeto apaixonante e
o ser apaixonado.
Foste o dono total e absoluto
de alguns momentos libertos
da minha encarcerada emoção.
                                                     Setembro 2010

PRAZER E VOLÚPIA

Prazer e Volúpia

Desliza, suavemente,
o pensamento
sobre a ruiva pelagem de meu corpo
e aquieta a insanidade da complexidade
que invade a minha mente.
Sopra, levemente,
a brisa do prazer em minha face.
Inflama  meus ouvidos com palavras indecentes
e faz vibrar meu ser
ao toque sutil e doce
do teu corpo incandescente.
Aquece meu tremor
com o calor do teu ardor
e me envolve na neblina
do torpor de ser amante.
Sorve, num só gole,
o elixir da felicidade prazerosa
como quem toma da fonte
a poção  viril da água milagrosa.
Toma de mim
o lençol da  minha vergonha
e não deixe enrubescer
as faces da juvenil maturidade.
Cria um refúgio de aconchego
nos fortes braços da masculinidade;
me envolve com carinho
e faz soar meu corpo ao teu desejo.
Me despe,
resvala a minha pele
como a tocar
as cordas do violino
ou as aveludadas pétalas da flor.
Desfolha minha vontade
e cria um furacão em mim.
Me aquece de paixão
e penetra
no meu íntimo mundo,
desbravando os caminhos do pecado.
Deixa a volúpia aflorar o gozo
e a luxúria lambuzar as línguas.
E dança, no ritmo cadenciado,
a dança primitiva de Adão e Eva,
a descobrir no Éden
os diferentes gostos
do sexo e do amor.

                                             

IMAGENS


Imagens

Os espelhos de minha alma
refletem,confusos e absurdos,
nos labirintos de minha mente,
as lembranças de você.
Não deixam, absolutamente,
que suas marcas se apaguem
da minha sensível pele,
tornando a impressão indelével.
Insistem em mostrar
seus olhos incrustados
no meu olhar velado.
Não param de sussurrar
que sua existência findou,
e que do mundo real,
simplesmente eclipsou.

                                      Friburgo 2007










GRANDEZAS



Grandezas.

São tantas as vontades,
e tão grandes,
que já não cabem
no estreito porão
do pensamento.
São altos os anseios,
e tão extensos,
que perdem o sentido
quando, numa noite,
em ti não penso!                  Rio 05/outubro/2010

DESLIZE


Deslize

O sujo da cozinha
(a briga)
O banheiro todo molhado
(aquele frio na espinha)
O obrigado
(o gosto do pranto salgado)
Tudo isso já ficou
(marcado)
no tempo do esquecimento
(lento)
Pena que não ficou o sonho
(delirante)
o enorme e gostoso porre
(extasiante)
O desejo de ir adiante
(escondido)
Pena pelo amor
(perdido).
                                         Friburgo 1983

SAUDADE

Saudade

Saudade vai embora.
Aporta em outros corpos.
Faz como a noite
que abandona a aurora.
E a intenção de um beijo,
que é meu segredo,
deposita no fundo
do baú do meu desejo.